domingo, 2 de junho de 2013

Mais poemas de Gregório de Matos


À INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO

        Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
        Depois da Luz se segue a noite escura,
        Em tristes sombras morre a formosura,
        Em continuas tristezas a alegrias,
 
        Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
        Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
        Como a beleza assim se transfigura?
     Como o gosto, da pena assim se fia?

     Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
     Na formosura não se dê constância,
     e na alegria sinta-se tristeza.
 
     Começa o mundo enfim pela ignorância,
     e tem qualquer dos bens por natureza
     a firmeza somente na inconstância.
 

Desenganos da vida humana, metaforicamente

 
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
 
É planta, que de abril favorecida,
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.

É nau enfim, que em breve ligeireza
Com presunção de Fênix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza:

Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

De quem é a autoria desse poema? Alguns historiadores a atribuem a Gregório de Matos.
 
 

Um comentário:

  1. essa harmonização dos conceitos contraditórios da um toque diferente ao poema tornando-o mais interessante ..

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