domingo, 18 de maio de 2014

RESENHA: Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2004.

Edgar Nahum, que mais tarde adotou o sobrenome “Morin”, nasceu em Paria, em 8 de julho de 1921. É filho único de um casal de judeus sefarditas, Vidal Nahum e Luna Beressi. Após o falecimento de sua mãe em 26 de junho de 1931, passa a ser criado pelo pai e pela tia Corinne Beressi, irmã mais velha de sua mãe. A perda materna tem forte impacto em sua infância, o que deixou marcas indeléveis durante toda a sua vida. A literatura e a leitura de livros dos mais variados temas tornam-se os seus companheiros inseparáveis.
Edgar Morin é um sociólogo e filósofo francês, Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formou-se em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. É considerado um dos principais pensadores sobre a complexidade. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. É considerado um dos pensadores mais importantes do século XX e XXI.( http://www.edgarmorin.org.br)
O livro intitulado Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro foi o resultado de uma solicitação da UNESCO, em 1999, a Edgar Morin com o propósito de que ele sistematizasse um conjunto de reflexões, que servissem como ponto de partida para se repensar a educação para o século XXI.  Com esse fim, o autor expõe os sete saberes imprescindíveis a uma educação integral e de qualidade como desejava a UNESCO. Esse livro é indicado a todos os profissionais da educação engajados com a eficácia da mesma, bem como, a todos aqueles que direta ou indiretamente fazem a educação brasileira acontecer.
No primeiro capítulo, As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão, o autor sugere que a educação do futuro aceite a possiblidade do erro e da ilusão no conhecimento, tendo em vista que está implícita em nossas percepções uma visão e compreensão de mundo subjetiva associada à afetividade com a qual a inteligência humana se desenvolve.
Segundo ele, as teorias científicas e as doutrinas tanto quanto a educação regida por elas devem adotar uma postura autocrítica e se despirem da convicção de possuir uma verdade absoluta, bem como, preparar-se para repensar as teorias e ideias estabelecidas, já que o inesperado pode se manifestar a todo o momento. Sem considerar a existência do erro e da ilusão não é possível que o conhecimento do todo avance.
No segundo capítulo, Os princípios do conhecimento pertinente, MORIN propõe a reforma do pensamento: O conhecimento deve ser reorganizado e articulado de modo a conhecer e apreender os problemas universais. Os saberes desvinculados, fragmentados e o conhecimento das informações e dos dados descontextualizados não dão conta de uma realidade cada vez mais complexa. Não se trata de abandonar o conhecimento especializado, mas de compreender os problemas numa perspectiva global, considerando as relações entre o todo e as partes e a multidimensionalidade do ser humano, o que conduzirá os concidadãos ao fortalecimento da responsabilidade e da solidariedade. Desse modo, o conhecimento será pertinente.
O capítulo seguinte, Ensinar a condição humana, nos diz que a educação do futuro deve contemplar a condição humana. Isto se dá ao reconhecermos a natureza antagônica e heterogênea dos seres humanos, como também a diversidade cultural inerente a estes.  Deve-se admitir e reconhecer a nossa própria condição como sujeitos culturais, físicos, sociais, históricos, biológicos, naturais, psíquicos, místicos, afetivos, imaginários. De fato, temos uma identidade genética cerebral e afetiva comum em nossas diversidades individuais, culturais e sociais.
Já no quarto capítulo, Ensinar a identidade terrena, Morin esclarece que o século XX deixou para a humanidade duas heranças: de um lado, a disseminação e miniaturização das armas nucleares que podem extinguir toda a humanidade; de outro, a dominação desenfreada da natureza pela técnica que conduz a humanidade ao suicídio. Entretanto, em resistência a isso, devemos aprender a ser terrenos, isto é, aprender a ser , viver, dividir e nos comunicar como humanos do planeta terra. Portanto, cabe a educação do futuro ensinar a consciência antropológica, a consciência ecológica, a consciência cívica terrena e a consciência espiritual da condição humana. É preciso aprendermos a sabedoria de viver junto.
No quinto capítulo, Enfrentar as incertezas, Morin nos alerta para a imprevisibilidade do futuro. O homem é posto frente a frente, a todo o momento, às incertezas, porque, ao contrário do que defende o saber científico, o real e o conhecimento têm caráter incerto. Desse modo, a educação do futuro deve incorporar ao ensino o princípio da incerteza do conhecimento para que o mesmo seja pertinente. É necessário ensinar para o enfrentamento dos imprevistos, do inesperado e da incerteza, modificando assim o seu curso.
No capítulo seis, Ensinar a compreensão, o autor nos faz perceber que apesar dos avanços na área de comunicação, não há compreensão entre os povos de diferentes origens e culturas, nem entre as pessoas mais próximas. O planeta e as sociedades são caracterizados pela incompreensão. Por isso, uma das tarefas da educação do futuro é justamente educar para a compreensão humana.
À luz das palavras do autor, a educação deve estar voltada para o ensino dos inúmeros obstáculos inerentes às compreensões intelectual e intersubjetiva, dentre os quais se destacam a indiferença, o egocentrismo, o etnocentrismo, o sociocentrismo. Isto significa dizer que devemos ensinar a compreensão entre as pessoas, entre todos os níveis educativos como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade.
No último capítulo, A ética do gênero humano, Morin mostra que a educação deve ensinar a ética do futuro cuja base está na antropo-ética, ancorada na tríade indivíduo/sociedade/espécie, da qual emerge a nossa consciência e nosso espírito propriamente humano.
O ensino da antropo-ética compreende religar a tríade indivíduo/sociedade/espécie, ensinar a democracia, humanizar a humanidade, compreender o planeta, respeitar o outro uno, diverso e diferente, desenvolver a solidariedade e a compreensão, todavia sem negar a incerteza.
Em vias de conclusão desse capítulo e do próprio livro, Edgar Morin afirma que o nosso propósito ético, para reduzir os efeitos catastróficos na terra de dominação e extinção humana, é realizar a humanidade e a cidadania terrena. O ensino deve voltar-se para a conscientização de que o homem é indivíduo, parte da sociedade e pertence a própria espécie humana. Por isso, deve desenvolver autonomia, solidariedade e responsabilidade social.
A leitura dos sete saberes de Morin nos oferece um arcabouço teórico vasto de conhecimentos em diversas áreas, com uma linguagem ora complexa, ora elucidativa, ora poética, o que demonstra a sapiência do autor e o tamanho do caminho a percorrer no processo de reestruturação do ensino brasileiro.
Longe de fornecer uma receita ou um programa educacional acabado, as linhas desse livro, por um lado, nos conduzem a reflexão do nosso papel como cidadão desse mundo e como partícipes de um sistema educacional que não dá conta das demandas do século XXI. Por outro, nos convida a superar desafios em busca de uma educação embasada em um novo paradigma que supere a fragmentação dos saberes, reconheça as incertezas do conhecimento científico e desenvolva nos seres humanos, sob um prisma democrático, formas de solidariedade e responsabilidade pela vida humana e pelo planeta.

* Por Elza Sueli Lima da Silva



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Resenha solicitada pelo Professor Humberto Luiz Lima de Oliveira, coordenador do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) – subprojeto de Licenciatura em Letras com Francês, como uma das atividades previstas pelo programa.

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