GUSDORF,
Georges. Professores para quê? Para uma pedagogia da pedagogia. Trad. M.F. 3
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
* Por Elza Sueli Lima da Silva
Georges Gusdorf (1912-2000) foi
um filósofo francês que pensou sobre o papel e a importância do professor em
uma nova sociedade, colocando como centro do processo ensino-aprendizagem, a
relação professor-aluno. Nasceu em Bourdeaux, lecionou na Universidade de
Estrasburgo e combateu o regime nazista. Em decorrência disso, foi prisioneiro
de guerra entre 1940-1945, período em que escreveu artigos e sua tese sobre
“experiência humana do sacrifício”. Em 1963, publicou a sua principal obra
“Professores, para quê?”, indicada para todos os profissionais da educação em
todos os níveis, engajados com a transformação da mesma para o bem comum.
No primeiro momento da obra,
Gusdorf trata da relação professor-aluno, defendendo-a como essencial no
processo de ensino-aprendizagem. Os sujeitos necessitam interagir com outros
para que o conhecimento de mundo seja transformado em saber epistemológico.
Nesse processo, é relevante a mediação docente no sentido de preparar os
aprendizes para o enfrentamento da vida.
Nesse movimento, O mestre deve
partir dos conhecimentos prévios dos educandos, como também considerar as
possibilidades, as diferenças e limitações dos mesmos, pois “cada aluno é um
aluno entre todos os alunos na classe reunida” (p. 189). Como consequência
disso, não se deverá esperar os mesmos resultados de todos os alunos.
Na relação professor-aluno, há
algo que transcende o conteúdo das aulas de uma determinada área do saber: são
as marcas indeléveis resultantes de um gesto, um debate, um enfrentamento, uma
atitude, uma palavra, uma reflexão. Elas fazem com que o professor fique na
memória do educando. Isto prova que os métodos não serão eficientes se o
professor não for aceito, estimado e respeitado por seus alunos. Sem esses
sinais, a voz do mestre não será ouvida e a sua vocação será questionada.
Para Gusdorf, a vida escolar não
contém o essencial. Valoriza-se os programas, as notas, os exercícios, as
classificações, os exames, os diplomas, em detrimento de uma educação que
realmente busque a humanidade, a luta pela vida pessoal, a preocupação com o
todo. A verdadeira vida, segundo o autor, está ausente do processo educativo.
No que concerne à função docente,
ele esclarece que a tarefa educativa essencial do professor está além do
cumprimento das determinações do sistema escolar. É preciso contestar a ordem
estabelecida, já que do ponto de vista da sabedoria oriental, a essência do
ensino e de toda aprendizagem não é aprender muitas coisas, mas o autodomínio e
o autoconhecimento que conduzem à plena realização humana.
Parafraseando o autor, o mestre não
é um mero repetidor de uma verdade pronta. Ele anuncia, a cada um, uma resposta
particular, uma resposta singular e uma realização. Abre a perspectiva de uma
verdade. Ele deve se ocupar com a formação intelectual, como também, com a
formação moral e espiritual, no que diz respeito à formação da personalidade.
Outro aspecto interessante na
obra é a ideia de que o mestre não deve estabelecer uma relação de subordinação
com o discípulo. Cabe-lhe instrui-lo e conduzi-lo de modo que se torne um
indivíduo autônomo, capaz de seguir o seu próprio caminho. E o discípulo deverá
se empenhar para se tornar, algum dia, mestre também. Para a eficiência do
processo de ensinar e aprender, é necessário que haja a reciprocidade entre o
indivíduo que ensina e aquele que aprende.
Gusdorf também faz uma crítica à
pedagogia, mostrando-nos que quando se trata do enfrentamento dos problemas
educacionais, o pedagogo isola-se em sua técnica e não busca compreendê-los a
partir da metafísica da pedagogia nem da mitologia. Essas vertentes aceitariam
o fenômeno humano em sua totalidade e tentaria situar o seu destino na
totalidade do mundo.
Para o autor, como atesta MORIN
(2004)1, a nossa civilização está em crise, haja vista a
compartimentação do saber. Cabe ao educador enxergar além da área de
conhecimento na qual é formado, buscando ensinar o saber universal porque o
homem e o mundo estão ligados por um parentesco essencial.
Em vias de conclusão, Gusdorf
atesta que o verdadeiro mestre considera o ensino dos programas e das atividades
especializadas como um meio para despertar nos alunos as suas verdades
particulares, e não para impor uma verdade universal. É, para o autor, o
professor de filosofia, que se espelha em Sócrates e Diógenes, aquele que tem
maior possibilidade de ser um mestre, porque conduz os educandos a questionar
as evidências.
Os pensamentos de Gusdorf nos faz
rever e questionar a nossa atuação docente e o próprio sistema educacional
brasileiro, o qual, muitas vezes, seguimos fielmente sem contestar a ordem estabelecida, como afirma o autor. É
claro que os programas devem ser seguidos, no entanto, a educação não deve se
limitar ao ensino especializado, desconsiderando as implicações e os reflexos
da ação do homem no mundo e no próprio homem. O ensino deve se ocupar também
com a formação da personalidade humana.
Centralizando o debate na relação
professor-aluno, o autor, fundamentado em pensadores da educação, filósofos,
pensamentos bíblicos, saberes mitológico e oriental, nos prova que o verdadeiro
mestre deve ser um exemplo para os seus discípulos e não um modelo a ser
copiado, como também, deve reconhecer a sua condição de aprendiz. O verdadeiro
mestre, no processo de mediação do conhecimento, deve reconhecer o educando
como único, portanto não esperar da classe as mesmas respostas. Assim,
conquistará a confiança, a estima e o respeito daqueles que, com ele, aprendeu
a pensar por si mesmos e tirar as suas próprias conclusões.
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1. MORIN,
Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina
Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2004
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