MORIN, Edgar. Os
Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da
Silva e Jeanne Sawaya. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2004.
Edgar Nahum, que mais tarde
adotou o sobrenome “Morin”, nasceu em Paria, em 8 de julho de 1921. É filho
único de um casal de judeus sefarditas, Vidal Nahum e Luna Beressi. Após o
falecimento de sua mãe em 26 de junho de 1931, passa a ser criado pelo pai e
pela tia Corinne Beressi, irmã mais velha de sua mãe. A perda materna tem forte
impacto em sua infância, o que deixou marcas indeléveis durante toda a sua
vida. A literatura e a leitura de livros dos mais variados temas tornam-se os
seus companheiros inseparáveis.
Edgar Morin é um sociólogo e filósofo francês, Pesquisador emérito do CNRS (Centre
National de la Recherche
Scientifique). Formou-se em Direito, História e Geografia, realizou
estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. É considerado um dos
principais pensadores sobre a complexidade. Autor de mais
de trinta livros, entre eles: O
método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo,
Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a
educação do futuro. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. É considerado um dos
pensadores mais importantes do século XX e XXI.( http://www.edgarmorin.org.br)
O livro intitulado Os Sete Saberes necessários à Educação do
Futuro foi o resultado de uma solicitação da UNESCO, em 1999, a Edgar Morin
com o propósito de que ele sistematizasse um conjunto de reflexões, que
servissem como ponto de partida para se repensar a educação para o século XXI. Com esse fim, o autor expõe os sete saberes
imprescindíveis a uma educação integral e de qualidade como desejava a UNESCO.
Esse livro é indicado a todos os profissionais da educação engajados com a
eficácia da mesma, bem como, a todos aqueles que direta ou indiretamente fazem
a educação brasileira acontecer.
No primeiro capítulo, As cegueiras do conhecimento: o erro e a
ilusão, o autor sugere que a educação do futuro aceite a possiblidade do
erro e da ilusão no conhecimento, tendo em vista que está implícita em nossas
percepções uma visão e compreensão de mundo subjetiva associada à afetividade
com a qual a inteligência humana se desenvolve.
Segundo ele, as teorias
científicas e as doutrinas tanto quanto a educação regida por elas devem adotar
uma postura autocrítica e se despirem da convicção de possuir uma verdade
absoluta, bem como, preparar-se para repensar as teorias e ideias
estabelecidas, já que o inesperado pode se manifestar a todo o momento. Sem
considerar a existência do erro e da ilusão não é possível que o conhecimento do
todo avance.
No segundo capítulo, Os princípios do conhecimento pertinente,
MORIN propõe a reforma do pensamento: O conhecimento deve ser reorganizado e
articulado de modo a conhecer e apreender os problemas universais. Os saberes desvinculados,
fragmentados e o conhecimento das informações e dos dados descontextualizados
não dão conta de uma realidade cada vez mais complexa. Não se trata de abandonar
o conhecimento especializado, mas de compreender os problemas numa perspectiva
global, considerando as relações entre o todo e as partes e a multidimensionalidade
do ser humano, o que conduzirá os concidadãos ao fortalecimento da
responsabilidade e da solidariedade. Desse modo, o conhecimento será
pertinente.
O capítulo seguinte, Ensinar a condição humana, nos diz que a
educação do futuro deve contemplar a condição humana. Isto se dá ao
reconhecermos a natureza antagônica e heterogênea dos seres humanos, como
também a diversidade cultural inerente a estes.
Deve-se admitir e reconhecer a nossa própria condição como sujeitos
culturais, físicos, sociais, históricos, biológicos, naturais, psíquicos,
místicos, afetivos, imaginários. De fato, temos uma identidade genética
cerebral e afetiva comum em nossas diversidades individuais, culturais e
sociais.
Já no quarto capítulo, Ensinar a identidade terrena, Morin esclarece
que o século XX deixou para a humanidade duas heranças: de um lado, a
disseminação e miniaturização das armas nucleares que podem extinguir toda a
humanidade; de outro, a dominação desenfreada da natureza pela técnica que
conduz a humanidade ao suicídio. Entretanto, em resistência a isso, devemos
aprender a ser terrenos, isto é, aprender a ser , viver, dividir e nos
comunicar como humanos do planeta terra. Portanto, cabe a educação do futuro
ensinar a consciência antropológica, a consciência ecológica, a consciência
cívica terrena e a consciência espiritual da condição humana. É preciso
aprendermos a sabedoria de viver junto.
No quinto capítulo, Enfrentar as incertezas, Morin nos
alerta para a imprevisibilidade do futuro. O homem é posto frente a frente, a
todo o momento, às incertezas, porque, ao contrário do que defende o saber
científico, o real e o conhecimento têm caráter incerto. Desse modo, a educação
do futuro deve incorporar ao ensino o princípio da incerteza do conhecimento
para que o mesmo seja pertinente. É necessário ensinar para o enfrentamento dos
imprevistos, do inesperado e da incerteza, modificando assim o seu curso.
No capítulo seis, Ensinar a compreensão, o autor nos faz
perceber que apesar dos avanços na área de comunicação, não há compreensão
entre os povos de diferentes origens e culturas, nem entre as pessoas mais
próximas. O planeta e as sociedades são caracterizados pela incompreensão. Por
isso, uma das tarefas da educação do futuro é justamente educar para a
compreensão humana.
À luz das palavras do autor, a
educação deve estar voltada para o ensino dos inúmeros obstáculos inerentes às
compreensões intelectual e intersubjetiva, dentre os quais se destacam a
indiferença, o egocentrismo, o etnocentrismo, o sociocentrismo. Isto significa
dizer que devemos ensinar a compreensão entre as pessoas, entre todos os níveis
educativos como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da
humanidade.
No último capítulo, A ética do gênero humano, Morin mostra
que a educação deve ensinar a ética do futuro cuja base está na antropo-ética, ancorada na tríade
indivíduo/sociedade/espécie, da qual emerge a nossa consciência e nosso
espírito propriamente humano.
O ensino da antropo-ética compreende religar a tríade
indivíduo/sociedade/espécie, ensinar a democracia, humanizar a humanidade,
compreender o planeta, respeitar o outro uno, diverso e diferente, desenvolver
a solidariedade e a compreensão, todavia sem negar a incerteza.
Em vias de conclusão desse
capítulo e do próprio livro, Edgar Morin afirma que o nosso propósito ético,
para reduzir os efeitos catastróficos na terra de dominação e extinção humana,
é realizar a humanidade e a cidadania terrena. O ensino deve voltar-se para a
conscientização de que o homem é indivíduo, parte da sociedade e pertence a
própria espécie humana. Por isso, deve desenvolver autonomia, solidariedade e
responsabilidade social.
A leitura dos sete saberes de
Morin nos oferece um arcabouço teórico vasto de conhecimentos em diversas
áreas, com uma linguagem ora complexa, ora elucidativa, ora poética, o que demonstra
a sapiência do autor e o tamanho do caminho a percorrer no processo de
reestruturação do ensino brasileiro.
Longe de fornecer uma receita ou
um programa educacional acabado, as linhas desse livro, por um lado, nos
conduzem a reflexão do nosso papel como cidadão desse mundo e como partícipes
de um sistema educacional que não dá conta das demandas do século XXI. Por
outro, nos convida a superar desafios em busca de uma educação embasada em um
novo paradigma que supere a fragmentação dos saberes, reconheça as incertezas
do conhecimento científico e desenvolva nos seres humanos, sob um prisma
democrático, formas de solidariedade e responsabilidade pela vida humana e pelo
planeta.
* Por Elza Sueli
Lima da Silva
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Resenha solicitada pelo Professor
Humberto Luiz Lima de Oliveira, coordenador do PIBID (Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência) – subprojeto de Licenciatura em Letras com
Francês, como uma das atividades previstas pelo programa.